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Desafio 1 mês sem carne: jovens contam como se viraram nos cardápios dos 30 dias sem essa proteína na dieta
Guia Culinário 27/11/2018

Desafio 1 mês sem carne: jovens contam como se viraram nos cardápios dos 30 dias sem essa proteína na dieta

Você provavelmente conhece ao menos uma pessoa que é vegetariana, mas por acaso já pensou em perguntar a ela se foi fácil cortar a carne de vez do cardápio? O início pode ser bem penoso, ainda mais tendo que passar por provações, como sobreviver ao churrasco de aniversário do amigo ou dar adeus ao peixe que tanto gosta. Para contar como foi essa experiência nós batemos um papo com a socióloga Layssa Bauer, de 26 anos, e a jornalista Bárbara Nóbrega, de 24 anos. As duas toparam participar do desafio 1 mês sem carne e no decorrer dos 30 dias relataram como foi abrir mão desse tipo de proteína animal de vez.

A primeira semana sem carne passou sem problemas

Se tem uma coisa que tanto Layssa quanto Barbara têm em comum é uma vontade de parar de comer carne há muito tempo. Mas enquanto a socióloga nunca tinha tentado parar de vez, a jornalista já tinha passado pelo processo algumas vezes, embora no fim das contas sempre tenha voltado a se alimentar dessa proteína animal.

“O que me fez voltar a comer carne nas outras vezes foi a alimentação do dia a dia”, afirma. “Ela acaba facilitando que você consuma esse tipo de coisa junto com a sua refeição normal, como algo complementar. Mas foi normal, na primeira semana eu comi o que já comia, mas em maiores quantidades e sem nada de carne. Por exemplo, comi arroz, feijão e salada. Ou alguns legumes e farofa. Também comi alguns grãos, como amêndoas, coisas que eu soubesse que tinham proteínas junto”.

Já o caso da carioca Layssa foi diferente, porque, embora já quisesse reduzir o consumo de carne por uma questão ideológica, a sua decisão de parar de comer a proteína veio quando teve que viajar a São Paulo a trabalho. Lá, ela percebeu que os restaurantes, mesmo quando não eram vegetarianos, tinham essa opção de cardápio para os seus clientes. E como ela precisava comer na rua todos os dias, encontrar alternativas à carne se tornou uma questão de rotina.

“Eu estava em um ambiente em que era muito fácil achar uma opção sem carne”, lembra. “Então essa introdução foi fácil. E foi justamente por eu ter visto que podia passar por isso naturalmente, sem ter feito uma escolha consciente de não comer carne, é que eu resolvi dar uma continuidade para isso e ver até onde eu consigo ir”.

Na segunda semana, os desafios começam

Embora o início do desafio tenha sido bem simples, o mesmo não se pode dizer em relação à sua segunda semana. Layssa, por exemplo, voltou para sua casa, no Rio de Janeiro, o que a fez ter que começar a se preocupar em adaptar a comida preparada em casa.

“Enquanto em São Paulo eu estava comendo na rua tranquilamente coisas sem carne aqui eu meio que estou tendo que fazer um esforço dentro de casa para tentar cozinhar e deixar coisas prontas e ter opções”, conta. “Então acho que o esforço é mais de pesquisar coisas para fazer em casa, o jeito de fazer marmita, maneiras de adotar esse tipo de nutrição boa sem carne, esse tipo de coisa”.

No caso de Bárbara o problema foi outro. Quando já estava quase entrando na sua terceira semana sem carne ela passou mal, e decidiu voltar a comer peixe quando o desafio chegar ao fim. Ao mesmo tempo, não culpa a ausência desse tipo de proteína animal pelo problema, mas sim o seu próprio organismo.

“Eu absorvo pouco ferro mesmo, mas não acho que é por causa da mudança de alimentação, porque eu já tinha ficado um tempo assim sem comer carne”, diz. “Estou sem tempo de ir na nutricionista, mas tenho comido muita coisa com ferro, como folhas verde escuras, espinafre, agrião, couve. Cheguei até a comer um nhoque de espinafre e ricota”.

Mudanças no cardápio

Como nem Layssa e nem Bárbara foram a um nutricionista antes de começar o desafio – embora ambas afirmem que ainda têm esse desejo – as duas tiveram que se virar no cardápio diário. Para isso, começaram a procurar informações sobre o vegetarianismo. Afinal, além de simplesmente cortar a carne é preciso substituir a proteína na dieta – tarefa que pode parecer simples, mas que requer cuidados.

“Não comi nada assim, muito requintado, como pratos vegetarianos”, conta Bárbara. “Eu só comi o que já comia normalmente, mas com uma complementação de outra proteína. Por exemplo, ervilha fresca eu já comia bastante porque eu sei que tem muita proteína, então eu como mais nos pratos que faço”.

Falta de carne? Um pouco

Dizer que nenhuma das duas não sentiu nenhuma falta de carne não seria exatamente verdade. Layssa, por exemplo, teve um churrasco para comemorar o aniversário de um amigo. A solução? Levar a sua própria marmita vegetariana de casa!

“O churrasco foi honestamente do mais próximo que eu tive de vontade de meter a mão naquela tábua de carne e comer”, ri. “Porque no final das contas eu até gosto do gosto de carne. Mas se eu consegui passar por aquilo comendo tomate, pimentão e cebola grelhados então eu consigo passar por apertos menos intensos”.

Pois é, churrasco também foi um problema enfrentado por Bárbara. Afinal, por não estar em casa foi mais difícil resistir à tentação de abrir mão desse tipo de proteína. “Eu senti vontade de comer carne no dia em que fui num restaurante que tinha churrasco, e em uma hamburgueria também. No primeiro caso eu comi queijo coalho e no segundo um hambúrguer de quinoa”.

Ao mesmo tempo, essa saudade ajudou a inovar na cozinha. Em sua terceira semana sem carne, Layssa contou que vinha sofrendo com as suas vontades de comer pratos específicos, e por isso teve que abusar da criatividade para fazer adaptações de receitas que costumam levar a proteína.

“Quanto mais tempo passa mais difícil fica, porque o cardápio vai ficando monótono, e eu sou muito de vontades. Por isso, estou sendo forçada a inventar moda na cozinha para não morrer de frustração. Cheguei a fazer um estrogonofe de vegetais para sanar a vontade e funcionou, ficou bonzão”.

Ao fim do desafio, a relação com a comida mudou

Ficar 30 dias sem carne não foi uma tarefa fácil, mas as duas conseguiram passar por qualquer tipo de pressão externa para comer a proteína. Como um balanço geral, Bárbara afirma que só sentiu algumas tonturas, o que a fez voltar a comer carne ao fim do desafio. Ao mesmo tempo, a ausência do alimento gerou, em 4 semanas, algumas alterações na sua relação com a comida.

“Eu até agora estou ficando meio enjoada e sem muita vontade de querer comer carne. Tipo, a vontade simplesmente não aparece. Acho que essa é a principal diferença da primeira para a última semana. Seu corpo se acostuma”.

Já Layssa não chegou a passar mal, embora tenha tido algum problema para regular o intestino. Além disso, admite que muitas vezes não conseguir consumir exatamente o que queria a deixava com um humor ruim. Por isso, assim que a experiência chegou ao fim foi a um fast-food comer hambúrguer.

“Definitivamente não pretendo virar vegetariana, foi bem difícil. Sou uma pessoa que depende muito das refeições para ficar motivada durante o dia, então tive que me empenhar bastante para fazer pratos bons e apetitosos. Deu um trabalhinho, não sei se estou disposta a fazer isso ad infinitum. Gosto de de vez em quando poder sair de casa sem planejar o que vou comer e pensar na hora. Vegetariano não pode fazer isso”.

Mas isso significa que ela não gostou de ficar um mês sem carne? Nada disso! Para a socióloga a experiência foi ótima, ainda mais porque ela continuou se exercitando normalmente e percebeu que a sua pele ficou menos irritada. Como ponto negativo lembra a dificuldade em encontrar restaurantes que ofereçam um bom buffet vegetariano no Rio de Janeiro, ainda mais porque em alguns dias da ela semana precisa comer na rua. Ainda assim, considera o saldo positivo.

“Bom, super-recomendo a experiência. É difícil, é frustrante e requer bastante trabalho, mas dá uma outra perspectiva da nossa relação com comida. Depois disso eu estou passando a comer mais em casa, aproveitar todas as partes do que eu como. Como consequência gastei menos com comida. E o mais importante: me senti muito bem por conseguir diminuir meu consumo de carne”.

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